A Cidade Velha é um dos bairros mais tradicionais de Belém. Até por isso ele já foi abordado em diversos trabalhos fotográficos, inclusive, sendo minuciosamente retratada por alguns. Isso não o torna um tema esgotado, mas é preciso ter cuidado para não se cair nos lugares-comuns.
Até por ser tradicional, a Cidade Velha oferece imensas possibilidades para aqueles que querem se deter sobre características paraenses. É um bairro constitutivo de um povo e constituído por um povo. Lá é possível se verificar elementos quase perdidos pela nossa cultura e também os mais novos aspectos da nossa sociedade. Ou seja, na Cidade Velha também achamos o novo. O novo do movimento e do dinamismo humano; novo da imutabilidade das relações do homem e da dinâmica que é a vida. Na Cidade Velha tem elite e tem povo, tem feira ao lado de museu, tem casarões seculares e prédios modernos com vidros espelhados em sua fachada.
Através das vias do antigo bairro buscamos, agora, mostrar como o homem é mais efêmero que o que ele constrói. A cultura, bem imaterial, mas também palpável, é, como sabemos, fruto das modificações e adaptações que o homem faz no meio em que está inserido. Tão difícil de se erigir, quanto de se destruir; já que é impossível sermos humanos sem nada que nos cerque e que nos ajude a entender o que somos. A cultura perdura. Agrega elementos para não morrer, mas, por isso, se modifica. Esse sincretismo não é de todo ruim, e o Brasil é uma prova disso. Pode ser negativo se vier carregado de preconceito discriminatório, como no caso da figura de Iemanjá, que foi adotada no Brasil como uma mulher branca em detrimento da imagem original da divindade, que era negra como seus seguidores originais. Mas ainda aí existe o interesse de resguardar um elemento cultural tão cara para um povo.
É claro que muitas mudanças são feitas de maneira deliberada, como as feitas nas religiões afros. No entanto, a maior parte dessas modificação são feitas sem que percebamos e advém das necessidades que a cada dia surgem em nós ou são criadas para nós. Isso faz parte do conceito de cultura, que afirma que o homem convive com seu meio de forma a modificá-lo. Tais mudanças acontecem, por vezes de forma tão acelerada e agressiva que acabam apagando vestígios importantes do que somos, de nossa história. A fotografia, como documento verossímil, tem o importante papel de congelar um fragmento de um momento, de fazer um recorte do real. Por mais que esse registro esteja marcado pelo olhar do fotógrafo, não perderá seu valor e ainda poderá ser usado como fonte para se estudar um dado momento histórico.
Um dia, mesmo que a Cidade Velha já não mais exista, se poderá saber, através de fotografias com valor documental, como ela era, que tipo de pessoas circulou por suas ruas, como eram essas ruas, como agimos ou deixamos de agir para preservá-la... Poderá se saber quem somos e porque somos assim, analisando o que fomos. Observando as ruas da Cidade Velha identificamos nossa identidade e as mudanças que não para de ocorrer nela.
(as imagens que ilustram o texto acima serão postadas posteriormente)
(as imagens que ilustram o texto acima serão postadas posteriormente)